CIDADE INVISÍVEL | Caracterização da Cuca faz com que a série seja alvo de críticas
Na série de Carlos Saldanha, a personagem Cuca é interpretada por Alessandra Negrini. Caracterização tem repercutido na internet.
A série brasileira Cidade Invisível, produzida pela Netflix, nem estreou e já está dando o que falar. O trailer oficial do drama foi divulgado a dois dias pelo serviço de streaming, e a caracterização de uma das lendas representadas no vídeo tem repercutido bastante.
A Cuca, criatura mitológica brasileira, conquistou o imaginário popular quando foi apresentada nas adaptações para a TV de “Sítio do Pica-pau Amarelo“, baseadas nos livros de Monteiro Lobato. No periódico, a personagem era caracterizada como uma criatura de estatura humana, mas com pele, calda e cabeça de jacaré. O figurino mudava um pouco de versão para versão – de vestido vermelho em algumas e sem roupas em outra – a personagem também era marcada por ter cabelos loiros e habitar um caverna.
Na versão proposta por Carlos Saldanha, diretor da série, a lenda parece estar um pouco diferente: interpretada por Alessandra Negrini (Mulheres Alteradas; Sexo, Amor e Traição), a personagem é representada por uma misteriosa mulher de vestes longas e escuras com tererês no cabelo. Em uma das cenas, ela parece estar em um ritual envolvendo borboletas. Parece que o lar da feiticeira também têm características cavernosas, embora esteja longe de ser uma caverna propriamente dita.
A caracterização da personagem fez com que alguns usuários das redes sociais – que provavelmente tinham a imagem da Cuca de Lobato em mente – criticassem a série, mesmo sem saber se essa é a real aparência do ser mitológico ou apenas uma disfarce. Confira:
Eu definitivamente não aceito mais nenhuma representação da Cuca que não seja uma mulher-jacaré
— Alberto Pilati (@Albertossauro) January 8, 2021
Primeiro, valeu série era exatamente oque eu tava querendo assistir no momento
Segundo, espero que a cuca tenha cabeça de jacaré
Terceiro, cade o mapinguari ?— JoDio (@jprwolf2416) January 8, 2021
Cuca nera jacaré??
— l o v (@b_devilqueen) January 7, 2021
se a personagem da alessandra negrini for a cuca e não se transformar em um jacaré eu não assisto pic.twitter.com/OryobTRt9H
— Vini | ? Deuses americanos | ? Chronos (@trenchpiIots) January 7, 2021
O que nem todos sabem é que nas origens da lenda da Cuca, a criatura não tinha essa imagem reptiliana que as adaptações das obras de Lobato impôs, como vocês podem ver a seguir.
Conheça as origens da Cuca
Um dos livros que pode nos fazer entender um pouco mais sobre o folclore nacional é o “Geografia dos Mitos Brasileiros“, escrito pelo historiador e antropólogo Luís da Câmara Cascudo. Nele, o autor descreve a Cuca da seguinte forma:
“A Cuca ou a Coca é um ente velho, muito feio, desgrenhado, que aparece durante a noite para levar consigo os meninos inquietos, insones ou faladores. Para muitos a Coca ou Cuca é apenas uma ameaça de perigo informe. Amedronta pela deformidade. Não sabe como seja o fantasma. A maioria, porém, identifica-a como uma velha, bem velha, enrugada, de cabelos brancos, magríssima, corcunda e sempre ávida pelas crianças que não querem dormir cedo e fazem barulho. É um fantasma noturno. Figura em todo o Brasil nas canções de ninar. Não há sobre ele episódios nem localizações. Está em toda a parte, mas nunca se disse quem carregou e como o faz. Conduz a criança num saco. Leva nos braços. Some-se imediatamente depois de fazer a presa. Pertence ao ciclo dos pavores infantis que a Noite traz.”
A personagem, portanto, assemelha-se mais à uma bruxa velha do que a caracterização de Lobato. Outras lendas de origem portuguesa também relatam o personagem “côca“, um indivíduo que participava de procissões religiosas e vestia uma túnica cinzenta com um capuz. Na Espanha, por sua vez, existia a personagem “Coca“, descrita como um dragão de papelão que assustava as crianças.
No Brasil, essas diversas origens da personagem se misturaram a tradições de origens indígenas e africanas: no tupi, “cuca” significa tragar, engolir de uma vez, e no idioma angolano Nbunda o termo significa avô ou avó, o que corrobora para sua aparência velha. No final, o que se tem é a imagem de uma velha que rapta e devora crianças que se recusam a dormir ou obedecer as vontades dos pais.
O que Monteiro Lobato faz é adaptar esse personagem para uma realidade mais infantil, aproximando-se mais do dragão de origem espanhola. No Sítio do Pica Pau Amarelo, a Cuca é uma criatura que mora no Capoeirão dos Tucanos, dorme uma vez a cada sete anos e habita uma caverna escura, onde pratica suas feitiçarias.
Na própria obra de Monteiro Lobato, a personagem é descrita de duas formas diferentes. Na primeira vez, Pedrinho a descreve como alguém que “tinha cara de jacaré e garras nos dedos como os gaviões. Quanto à idade, devia andar para mais de três mil anos. Era velha como o tempo”. Já a personagem Narizinho a descreve como uma velha: “De repente, uma velha, muito velha e coroca, aproximou-se de mim com um sorriso muito feio na cara”.
Seja como jacaroa ou como uma velha feiticeira, a versão interpretada por Alessandra Negrini deve retratar o lado mais sombrio e adulto da Cuca. A julgar pelo histórico da atriz, é de se esperar que o resultado dê certo.
“Cidade Invisível“, uma série original Netflix, chega ao serviço de streaming no dia 5 de Fevereiro.
5 comentários
Relaxa galera, jaja ela toma a vacina e vira jacaré
Calma galera, na série haverá a lenda do Zé Gotinha que, vacinará a Cuca e, ela virará um jacaré!
Gente só para lembrar A Cuca, o saci, a mula sem cabeça o curupira entre outros personagens do imaginário brasileiro não é MITOLOGIA, e sim FLOCORE!
Ou seja a Cuca é apenas mais uma versão do Bicho Papão/Homem do Saco
Gostei muito dos primeiros episódios. Figurino, efeitos especiais, história, personagens, trilha sonora, tudo muito bem colocado num clima de mistério e o que considero mais importante: É uma história com personagens do nosso folclore. Oportunidade para novas gerações conhecerem a riqueza da nossa cultura, visto que muita gente sabe mais sobre os heróis e vilões da cultura norte americana do que do nosso Brasil.