Jogos Vorazes | Por que a escalação de Rachel Zegler tem dividido opiniões entre os fãs?

Desde o início da tarde de hoje (31), quando a Lionsgate confirmou a escalação de Rachel Zegler no papel de Lucy Gray Baird em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes“, centenas de fãs da saga têm compartilhado suas impressões sobre a mais nova contratação. Até o momento, as opiniões têm ficado bastantes divididas em relação à escolha da atriz.

Enquanto alguns fãs apontam o talento e a versatilidade de Zegler como pontos positivos de sua escalação, outros tecem críticas em relação à escolha. Confira, nos tópicos a seguir, alguns motivos pelos quais a contratação de Zegler para o papel tem dado tanto o que falar:

A raça de Lucy Gray Baird

Jogos Vorazes Rachel Zegler
Para a maioria dos fãs, Lucy Gray é uma mulher racializada (Imagem: Reprodução/ACA/RovehJohn).

O primeiro ponto a ser levantado sobre a escalação de Rachel Zegler como Lucy Gray Baird remete a uma discussão que é realizada desde o lançamento do livro, e que já foi exaustivamente debatida entre os fãs: a possibilidade de Lucy Gray Baird ser uma mulher racializada.

Boa parte dessas questões surgem do fato de que, no livro, a raça da personagem não ganha muito destaque. Alguns pontos da própria história, contudo, contribuem para a aceitação de que ela não é uma mulher branca. Já se sabe, por exemplo, que a maior parte dos moradores da Costura, no Distrito 12, são pessoas com a pele cor de oliva – um tom que se difere bastante do de Zegler.

Todos os pontos do livro criaram, entre os fãs, um consenso de que Lucy Gay Baird é racializada -uma parte considerável dos leitores, inclusive, enxergam a personagem como uma mulher negra. Ao se tratar da adaptação, portanto, a escalação de uma atriz branca para o papel acabou frustrando as expectativas de parte desses fãs, que ainda tem questões a esse respeito desde as adaptações passadas:

Whitewashing em “Jogos Vorazes”

Fãs de "Jogos Vorazes" já tiveram que lidar com whitewashing (Imagem: Divulgação/Lionsgate)
Fãs de “Jogos Vorazes” já tiveram que lidar com whitewashing (Imagem: Divulgação/Lionsgate).

Quem acompanha os fãs de Jogos Vorazes” há mais tempo sabe que, apesar de sempre apoiarem o talento e a entrega de Jennifer Lawrence como Katniss Everdeen, whitewashing promovido pela produção dos filmes sempre foi uma questão discutida e criticada pelos seguidores da saga. Isso porque, nos livros, a protagonista da franquia é descrita como uma garota da pele cor de oliva, e nos filmes, escalaram uma atriz branca para viver o papel.

Desde que o anúncio de Lawrence foi oficializado, os fãs passaram a questionar a Lionsgate sobre o respeito às raças e etnias descritas por Collins nos livros. Nesse ponto, inclusive, vale salientar que apesar da saga ter sido publicada no final dos anos 2000, a autora sempre teve como princípio a diversidade dos seus personagens. É seguro dizer, inclusive, que a franquia é uma das sagas de maior sucesso protagonizada por uma personagem não-branca.

Essa ferida causada pelo whitewashing de Katniss, portanto, permaneceu aberta até os dias atuais, quando os fãs passaram a acreditar que representar Lucy Gray Baird como uma mulher negra seria uma forma de compensar minimamente um erro do passado dos filmes.

Além disso, a cineasta Nina Jacobson, produtora de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, também disse em 2020 que amaria ver uma mulher negra interpretando a personagem nos cinemas. Esse comentário nutriu bastante as expectativas dos fãs, que se consideravam próximos de ter um filme protagonizado por uma mulher racializada – até a tarde de hoje.

A questão latina de Rachel Zegler

Jogos Vorazes Rachel Zegler
Apesar da ascendência latina, privilégios de Rachel Zegler entram em debate (Imagem: Divulgação/PCA).

Durante os tópicos anteriores, alguns leitores devem ter ser questionado sobre o fato de Rachel Zegler ser uma mulher latina, o que em tese acrescentaria ao filme uma nova camada de representatividade. Aqui, contudo, é necessário fazer algumas ressalvas importantes para o caso da atriz.

A primeira delas se dá pelo fato de que, apesar de ascendência latina por parte de sua avó – contraposta aqui pela ascendência polonesa de seu pai – Zegler é uma artista que nasceu e cresceu nos Estados Unidos, em um contexto completamente norte-americanizado. É claro que isso não apaga a ascendência da atriz, que está inserida em uma sistema que ainda oprime pessoas latinas, mas ainda assim a coloca em um contexto de mais privilégios que outros integrantes dessa comunidade.

Outro ponto que diz respeito a interseccionalidade e também é digno de destaque é o fato de, apesar de sua ascendência, Zegler ainda é uma mulher branca – o que a confere outra série de privilégios inclusive na indústria cinematográfica, já que a inserção de atores brancos e latinos em grandes produções já não é algo tão atual, enquanto outros artistas latinos e racializados continuam passando despercebidos.

Escalação de atriz racializada acrescentaria mais representatividade ao filme (Imagem: Reprodução/EW).

Essas questões envolvendo o nível de representatividade que Zegler insere – ou não – aos seus trabalhos é um tema que ainda merece discussão e aprofundamento, mas o fato de ainda ser uma mulher branca a coloca em uma posição de privilégio que ela mesma já reconheceu em outras ocasiões. Isso acrescido às expectativas dos fãs de terem uma artista racializada no papel torna tudo ainda mais complexo.

Além disso, ainda existem as questões que envolvem alguns posicionamentos polêmicos de Zegler em suas redes sociais. Ao rebater comentários sobre seus trabalhos em 2019, por exemplo, a atriz se descreveu como uma “mulher de cor” ao comentar que as pessoas amam criticar artistas do seu grupo. Poucos meses depois, Zegler dava entrevistas sobre ser uma mulher latina branca.

Nesse ponto, a mídia norte-americana também não contribui para a discussão ao colocar Zegler como um dos maiores exemplos de representatividade da atualidade. É claro que, para a comunidade latina norte-americana, onde essa discussão é aprofundada, ter Zegler como Branca de Neve em um projeto significante deve lá ter seu valor, mas ainda assim, urge a necessidade de discutir sobre a representação de mulheres latinas racializadas nessas mídias.

O complexo sistema que envolve os posicionamentos polêmicos da atriz, o uso indiscriminado da pauta de representatividade, o passado de Jogos Vorazescom whitewashing e a maneira como os fãs enxergam Lucy Gray Baird podem, por fim, ter criado um meio onde a escalação de Zegler divida tantas opiniões. A maneira como isso afetará o destino da produção, contudo, é algo que apenas o futuro dirá.

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E você, o que achou da contratação de Rachel Zegler para o papel de Lucy Gray em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes“? Compartilhe suas opiniões com a gente nas redes sociais, e para mais informações sobre a atriz e a produção do filme, fiquem sempre ligados aqui no Sobre Sagas!

Marcello OliveiraArquiteto e Urbanista aficionado por Cenografia e Cinema. Criador de conteúdo da área desde 2013 e apaixonado por adaptações cinematográficas, especialmente de fantasia.
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